sábado, 26 de fevereiro de 2011

Movimento cultural nacional ganha força e chega a Natal para diálogo com produtores musicais Por Sérgio Vilar, do DIÁRIO DE NATAL


Movimento cultural nacional ganha força e chega a Natal para diálogo com produtores musicais

Por Sérgio Vilar, do DIÁRIO DE NATAL
A palavra "teia" é hoje mais usada para classificar uma articulação organizada sob um mesmo objetivo do que o conjunto de fios de seda produzido pela aranha. Aliás, "rede" também mudou de conotação. E todas elas justificam os tempos dominados pelo universo virtual proporcionado pela internet. Um movimento mutante cresceu sob a genética dessa contemporaneidade. O Circuito Fora do Eixo captou as mudanças e problemas originados pelo novo mundo e criou soluções. São hoje os emergentes do cenário cultural, enquanto a indústria fonográfica afunda no conservadorismo de práticas de uma década atrás, já consideradas ancestrais.

Essa rapaziada formada substancialmente por produtores culturais com presença em 60 cidades e 27 estados da Federação está em Natal. O motivo é rotineiro. Se a internet encurta espaços ou até os elimina muitas vezes, a comunicação na rede virtual é insuficiente para certas comprovações. Essa galera está hospedada na casa do produtor e músico Anderson Foca para o reconhecimento presencial do cenário local. "O que constatamos em cada cidade é a dificuldade em se viver da cultura para quem trabalha individualmente. Hoje até para ser egoísta precisa pensar de forma coletiva", argumentou um dos gestores nacionais da rede, Pablo Capilé.

O embrião do Fora do Eixo surgiu em meados da década de 90, quando a internet se torna mais acessível ao público. O cenário musical já vislumbrava novos cenários enquanto músicas viajavam em downloads gratuitos. Era o futuro do consumo, da relação de mercado. Então, qual seria o papel da indústria fonográfica? O que substituiria o trabalho de produção, gravação e divulgação da música? Essas questões formaram a base para produtores culturais e universitários de Cuiabá pensarem alternativas. Na capital matogrossense, as bandas covers dominavam a produção musical. E bares e shoppings eram os locais para escoar o talento dos músicos.

"Surgem os festivais só de música autoral, um espaço aos artistas mostrarem suas composições. Mas durante o resto do ano as bandas eram obrigadas a tocar covers por falta de novas oportunidades", lembra Felipe Alten Felder, também gestor nacional do Fora do Eixo. A solução foi fundar selos de música para gravação dos talentos locais. E a divulgação? Seguiram os rumos da rede e criaram blogs, portais e uma pequena produtora de eventos. Estava montada a estrutura mínima de suporte para qualquer músico e banda. Faltava um item ainda importante: a distribuição do produto. E aí teve início ao trabalho de circulação e articulação com outras cidades.

Macaco Bong

Em 2005 era criado o Circuito Fora do Eixo. A banda Macaco Bong é hoje um estereótipo desse momento. Surgida em Cuiabá, fez uso dos serviços oferecidos pelo Circuito, viajou o Brasil e espalhou a novidade aos produtores onde se apresentava. "Faltava grana, mas sobrava camaradagem. E essa foi nossa alternativa. Nos conectamos com outros produtores e iniciamos o compartilhamento de tecnologia na rede". Aos poucos, cidades com menos de um milhão de habitantes reconheciam os mesmos problemas e soluções vivenciados pelo Fora do Eixo e se juntavam para vencer os mesmos desafios", lembra Talles Lopes, presidente da Associação Brasileira de Festivais Independentes - entidade colaborativa ao trabalho do Cirtuito.
Dependentes de solidariedade

Nos últimos cinco anos, o Fora do Eixo tem consolidado as plataformas tecnológicas e agregado parcerias. O Cirtuito não possui CNPJ nacional. Não é ONG, nem instituição formalizada. Os membros se mantêm da mesma forma de produtores: com a produção de eventos, venda de CDs, patrocínios com prefeituras ou iniciativa privada. Bem ao estilo "modernoso", trabalha na informalidade, na "brodagem" ou camaradagem de produtores amigos. Em Natal, se hospedaram na casa de Anderson Foca. São 60 "albergues" informais espalhados pelo Brasil, onde o Circuito mantém contato pela rede. Passam dois, três dias, dialogam com produtores, se atualizam e partem para outras cidades. De Natal viajam para Fortaleza e completam a turnê pelo Nordeste.

Felipe Alten Felder define o trabalho do Circuito, talvez uma cola no rabo do cometa da modernidade: "Não temos objetivo definido. Estamos indo. Crescemos e temos potencial para muito mais. E mais do que uma rede, trabalhamos um novo comportamento a partir da criação de novos modelos de consumo cultural. Essa plataforma construída também circula bem para artes cênicas, artes plásticas. É uma nova forma de produção cultural". E para Pablo Capilé, Natal é um dos pólos de exportação e importação de música. "O Dosol é exemplo de como Natal tem produzido tecnologia de ponta para conectar outros agentes, que se fortalecem politicamente e criam novas ferramentas de produção".

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